sexta-feira, setembro 15, 2006

Garrano, o cavalo da Callaecia

O Garrano provem duma raça muito antiga presente na Callaecia (Norte de Portugal e Galiza) desde a pré história, como se pode ver nas pinturas da era Paleolítica. Estes cavalos, depois cruzados com os pequenos cavalos dos Celtas, evoluiram para o cavalo do tipo Celta tal como o conhecemos hoje, com uma cabeça de perfil recto ou côncavo, pequeno, bem adaptado às zonas frias e húmidas das montanhas. O Garrano, propriamente dito, é a mais antiga raça por entre as raças irmãs celtas do Norte da Península Ibérica, nomeadamente o Cavalo do Monte da Galiza, o Asturcón das Astúrias ou o Potrok Basco.

A palavra garrano deriva da raiz indo-europeia "gher", que significa "baixo, pequeno" e que originou a palavra "guerran", a palavra Galesa que significa cavalo. Na Inglaterra usa-se a palavra pónei; na Irlanda "gearron"; na Escócia "garron" e em Portugal ‘garrano’.

O meio em que vivem os garranos é realmente especial. No Geres ainda crescem fetos gigantes (2 metros de altura), iguais aos que se vêem nos fosseis da época glaciar - o único local do planeta onde ainda existem.

Ao contrário do Lusitano esta raça não foi seleccionada pelo homem ( os cavalos Lusitanos da Coudelaria Nacional são o resultado do cruzamento de éguas andaluzes com garanhões árabes) , foi moldada pelo meio ambiente ao longo dos séculos. Os garranos ainda são caçados pelos lobos que vivem a sua vida selvagem na zona montanhosa que vai do noroeste de Portugal até à Galiza.

Em 1993, a Comunidade Europeia e o estado português uniram-se para preservar a raça. A maioria deles vive no Parque Nacional do Peneda - Gerês. Sem duvida que a raça está ameaçada. Nas últimas décadas os criadores começaram a libertar no monte outras raças de cavalos. O resultado foi inevitável - os garranos puros começaram a rarear.

Uma vez por ano alguns dos poldros são capturados e vendidos para vários fins; carne, cavalo de sela e atrelagem uma vez que já não são utilizados para a agricultura. O cruzamento com outras raças não é bem visto de forma a poder-se manter o seu património genético.

Todos os garranos são submetidos a testes de DNA à nascença para assegurar a sua ascendência, antes de serem registados nos Livros de Origens.

Nos locais onde podem ser encontrados os exemplares mais puros (regiões montanhosas do Alto Minho, Trás-os-Montes e Galiza), criados em regime de liberdade e num estado semi-selvagem, verifica-se uma perfeita concordância da sua morfologia com a caracterização da raça.

Durante milénios, o Garrano prestou um serviço inestimável às populações rurais do Norte de Portugal.
Com o desenvolvimento dos meios de transporte, vias de comunicação e máquinas agrícolas, a importância e o peso do Garrano diminuiu bastante. Contudo, na sua região de origem, ele continua a ser utilizado em tarefas agrícolas pelo facto da propriedade rústica ser de pequena dimensão e possuir um declive acentuado.

Se estiverem interessados, poderão ver manadas em liberdade na Serra do Gerês mais propriamente em Cabril. Actualmente estão registados cerca de dois mil indivíduos - 1500 adultos e 500 poldros - dispersos por dezassete concelhos nas províncias do Minho e Trás-os-Montes.

Principais Fontes:

http://www.equisport.pt/gca/index.php?id=86

http://www.ecotura.com/Garranos.htm

Já agora deixo aqui também um interessante link galego, onde ironizam com a tentativa Salazarista de misturar Garranos com outros cavalos portugueses de pureza mais do que duvidosa, quando na própria Serra do Xurez (parte do Geres que pertence a Espanha) existiam garranos com um grau de pureza elevada.

Com tais politicas, e apesar de ser um cavalo celta, grande parte dos garranos estará já contaminado com sangue árabe ou ibérico. Será que ainda é possível preservar uma elite de garranos puros?

http://www.agal-gz.org/modules.php?name=News&file=article&sid=2353

sábado, setembro 09, 2006

Feira Medieval de Santarém

No passado fim-de-semana realizou-se um festival em Santarém, para além duma exposição intitulada "Santarém e o Magreb - Encontro Secular"

Segundo o jornal o Mirante:

A história de Santarém tem forte influência do Magreb e há anos que se tentava realizar algo que o assinalasse. “Foram quatro séculos em que tivemos sob influência árabe, que depois permaneceu, porque após a conquista de Santarém por D. Afonso Henriques, os mouros foram para a mouraria e ficaram cá a viver”, recorda Nuno Domingos.”

Não posso falar da feira em si, muito menos da exposição porque não as visitei, parece que agora está moda realizarem-se feiras medievais, algumas com um rigor historico duvidoso.

De facto o conflito entre Moçarabes e Mouros propriamente ditos em Shantarin praticamente nunca existiu, os conflitos mais relevantes ocorreram com o invasor portucalense. Também é verdade que não podemos confundir as conquistas de territorios aos mouros com a sua expulsão.

Não vou aqui comentar a vida dessas cidades do Al-Andaluz, e talvez tenha sido essa a intenção da feira medieval, aqui farei apenas um breve resumo histórico da presença e da primeira tentativa de dominio Portucalense naqueles territorios hostis.

Na realidade, ainda antes de Afonso Henriques nascer, Santarém foi controlada pelos Portucalenses em 1093, mas aí os portucalenses assumiram o controlo de Santarém porque se aproveitaram duma luta interna entre a Taifa de Badajoz e os Almoravidas.

Em teoria Lisboa também esteve sob controle Portucalense em 1093, no entanto obviamente foi mais fácil para os Almoravidas “conquistar” Lisboa do que beber um copo de agua, era literalmente impossível a Raimundo e aos Portucalenses controlar uma cidade com tantos mouros como Lisboa, mesmo mais tarde isso só foi possível com o apoio dos cruzados.

Em 1094 Gelmirez era o Chanceler do Conde de Portucale e acompanhou-o pessoalmente numa expedição militar até perto de Lisboa, e só por muito pouco se salvaram da morte devido à pesadíssima derrota que sofreram contra os mouros da região de Lisboa.

Tal derrota sofrida por Raimundo trouxe em 1095 o rei de Leão, Afonso VI à fronteira meridional do Condado Portucalense e concedeu foral a Santarém para encorajar os cavaleiros portucalenses a defenderem a cidade, porque Afonso VI tinha perfeita consciência que Santarém estava demasiado exposta aos ataques dos Almoravidas de Lisboa.

Para além disso o rei de Leão nomeou Soeiro Mendes da Maia para governador militar da fronteira, e Soeiro Mendes da Maia era na altura o mais poderoso dos senhores portucalenses, e o certo é que de forma surpreendente esses portucalenses conseguiram aguentar Santarém durante algum tempo, apesar da distância que separava Santarém de Portucale e da proximidade de Santarém com Lisboa.

Essa resistência portucalense num território já tão distante acabou em 25 de Maio de 1111 quando o exército comandado por Ben Abu Bakr ao serviço do Emir de Marrocos reconquistou a cidade de Santarém para os mouros.